Você quer entender sobre as três ondas do feminismo? Aqui, explicamos tudinho de uma maneira bem fácil de entender.
Primeiro, vamos entender o que é feminismo. Feminismo nada mais é do que a doutrina que visa a ampliação do direito das mulheres. Contudo, com a evolução desse pensamento, o feminismo foi abraçando outras causas, como a igualdade de gênero, não só das mulheres, mas, também, dos homossexuais.
Para entender o que as três ondas do feminismo defendem e as diferenças entre as lutas delas, é importante compreendermos o momento histórico de cada onda.
Leia: Leis que protegem as mulheres
Primeira onda do feminismo
As primeiras organizações feministas começaram a ser criadas no século XVIII. A “primeira” mulher a ser considerada feminista na história é Mary Wollstonecraft (1759-1797). Ela foi uma escritora e filósofa inglesa e defendia que as mulheres deveriam fazer suas próprias escolhas. Ela não aceitava que o papel das mulheres era ficar em casa e servir o marido, mas que deveriam ser autônomas.
Mary Wollstonecraft publicou Reivindicações dos Direitos da Mulher e um livro chamado Modern Woman: The Lost Sex. Como normalmente acontece com os pioneiros, na época, essas ideias não eram bem vistas, mas, com o tempo, as ideias dela começaram a ser aceitas.
Na primeira onda do feminismo, as mulheres buscavam ampliar a democracia e tonar os direitos iguais para homens e mulheres, sobretudo o sufrágio, mas também formação profissional, trabalho remunerado e representação política.
Um exemplo de luta é Sojourner Truth (1797-1883). Ela ficou muito conhecida após seu famoso discurso “Eu não sou uma mulher” em 1851. Ela era escrava, mas conseguiu sua liberdade. Lutou pela abolição da escravatura e defendia que as mulheres deveriam reivindicar seus direitos. Além disso, Sojourner foi uma das primeiras mulheres negras que conseguiu vencer um caso contra um homem branco nos Estados Unidos.
Elizabeth Blackwell (1821-1910) é outra pessoa muito importante nessa primeira onda. Ela foi a primeira mulher a se formar numa faculdade de medicina americana, que era totalmente masculinizada na época. Ela lutou para que as mulheres pudessem também estudar medicina e publicou, em 1860, Medicine as a Profession for Woman e Address on the Medical Education of Woman em 1864.
Graças as essas e outras, entre 1930 e 1940 as mulheres iam para as universidades, podiam votar e ser votadas e ingressar no mercado de trabalho. Uma das justificativas para isso é o período. Nessas décadas os países que estavam na 1ª e 2ª Guerra Mundial perderam muitos homens e, assim, mas mulheres começaram a ocupar os lugares que estavam vagos.
Com o final das guerras, as mulheres, aos poucos retornaram para os seus trabalhos domésticos e os homens, para as indústrias, política, universidades. Para isso, houve o reforço midiático do papel da mulher dona de casa e da indústria cosmética e farmacêutica. Mas houve resistência.
Em 1949, Simone de Beauvoir (1908-1986), publicou O Segundo Sexo, livro que revolucionou e recebeu o apelido de a “bíblia” do Feminismo. Além disso, ela foi uma das primeiras mulheres a apoiar o aborto, assunto que até hoje é debatido. Simone e suas obras geraram muitas polêmicas e continuam muito atuais. Ela foi precursora da Segunda onda do Feminismo.
Segunda onda do feminismo
Entre 1960 e 1980, outras questões começaram a surgir no feminismo, como as que Simone de Beauvoir levantou. Nesse período, estava começando o Movimento Hippie nos Estado Unidos e teve o memorável festival de Woodstock. Além disso, a Guerra do Vietnã terminou em 1975. Esses fatores históricos e muitos outros, como a criação da pílula anticoncepcional, geraram novos questionamentos na sociedade e no papel das mulheres.
Foi na segunda onda do feminismo que as mulheres começam a repensar os movimentos da primeira onda, que eram mais voltados às mulheres burguesas, porque, até então, Mulheres “não brancas” eram consideradas seres sem gênero. Portanto, o feminismo deixou de ser um movimento apenas de gênero, mas tornou-se também um movimento social que luta pelos direitos das mulheres negras e pobres.
É na segunda onda do movimento feminista que a sociedade é questionada a respeito dos papeis sociais do homens e mulheres. Além de serem levantados questionamentos sobre gênero, sexo e orientação sexual. Nesse período, o termo gênero surge da ciência e a diferença sexual torna-se inquestionável. O gênero passa a ser entendido como uma construção social.
Uma figura importante na segunda onda do feminismo foi Carol Hanisch. Ela é uma jornalista e ativista que em 1969 publicou um ensaio chamado The Personal is Polítical. O títtulo “O pessoal é político” ficou bastante conhecido e é considerado por muitos o slogan dessa fase do feminismo.
Algumas autoras desse período são: Gloria Jean Watkins, Heleieth Iara Saffioti, Joan Scott, Betty Friedan, Nancy Fraser, Juliet Mitchell.
Terceira onda do feminismo
Os pensamentos da terceira onda do feminismo começaram após 1980. Esse terceiro movimento também é chamado por alguns de Pós-feminismo já que é uma desconstrução do feminismo e já não existe mais o feminismo, mas os feminismos no plural. Algumas teóricas começam a criticar a segunda onda afirmando que o movimento é monolítico e generalizante e que as características individuais e subjetivas das mulheres se perderam.
Judith Butler, uma das figuras mais importantes no âmbito teórico da segunda onda. Ela questionou a diferença sexual. Butler disse que a diferença sexual é construída através do gênero. Ou seja, o que o é ser mulher é algo criado pela sociedade. Portanto, o gênero é uma repetição estilizado de performances, através de mecanismos de controle social.
Outra escritora que discute sobre gênero é Teresa de Lauretis. Ela diz que existem tecnologias de gênero, uma delas é a mídia, através de filmes, desenhos, propagandas. No caso, a mídia produz um conteúdo capaz reinventar e reafirmar esses valores de que a mulher é biologicamente mais frágil que os homens e que devem ser submissas.
No caso, a categoria mulher/mulheres, criada anteriormente em oposição à categoria homem/homens deixa de representar a luta feminista, pois conflitos internos e novos movimentos começam a surgir. A partir de então, o feminismo foi pluralizado, existindo não apenas um feminismo, mas vários feminismos, feminismos dissidentes.
Um exemplo disso é a Teoria Queer, que surgiu a partir de pensamentos de vários autores, entre eles Judith Butler e Foucault. Na Teoria Queer, o gênero não é binário, ou seja, não existe apenas o masculino e o feminino.
A terceira onda não nega as concepções da segunda. Contudo, ela reivindica a diferença dentro da diferença.
No Responses